domingo, 21 de junho de 2015

Livro: Inclina o Ouvido do Coração



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A Capa

O FILHO PRÓDIGO A imagem por si mesma já nos diz tudo, segundo o tema apresentado no livro. Aprouve-nos, desta, enfatizar o abraço do pai no acolhimento de seu filho, que retornara de uma vida pautada pela experiência do sofrimento e do abandono. 

Desta mesma, observamos a estreita proximidade do Ouvido do filho que repousa sobre o Coração de 'seu pai', reflexo daquele inclinar que vem do mais profundo do interior de seu coração, atento – pela reconciliação – a tudo que a voz do mesmo lhe ordenasse cumprir. 

A experiência vivida pelo filho que partira, culminara, por sua vez, em sua passagem ao deserto, momento pelo qual pôde confrontar-se consigo mesmo, pelo reconhecimento e aceitação sincera de suas faltas até chegar ao arrependimento que o reconciliaria com 'O Bem', antes desprezado.

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Introdução

Diante de uma realidade marcada pelo individualismo, como se apresenta os nossos dias, urge o sair de nosso comodismo que nos aprisiona na esfera de nossas ideias, as mais apegadas, e confundidas por vezes como verdade absoluta. 

Passaram-se mais de 1500 anos de história e as palavras do grande patriarca São Bento, que viveu em um período parecido com o nosso – apesar das limitações contextuais e culturais da época – se tornam até os nossos dias como sendo válidas e atuais em sua regra, ecoando como um forte meio de orientação e exemplo, numa abertura que se dá para os acontecimentos hodiernos, para tudo disposto à nossa volta, como de sua mensagem característica, que de certa forma nos exercita para aquele atender do coração e seu movimento. 

O grande motivo a que esta se debruça, é para o confronto com a realidade atual, no intuito de se pôr paralela à compreensão da vontade de Deus, que não é senão o querer da plena realização do homem, de seu chamado específico, sob os seus vários aspectos e aspirações, em vista da construção de uma sociedade baseada na verdade, a qual nos inspira e garante Sua Palavra. Para este fim, faz-se mister a disposição para a “Escuta”, como encontramos na orientação dada por São Bento, aos que militam sob sua paternidade espiritual, já no início de sua regra.

Este apelo para a “Escuta” permeia toda a instrução de São Bento, percebida na regra do começo ao fim, e subentendida por vezes pela “obediência”, como forma de fazer inculcar na mente e no coração de seus discípulos, a importância que a mesma se deve dar, como primeiro passo para o galgar do entendimento da vontade divina que se dá no chão de nossa história, quer pessoal ou comunitária, passando pelas experiências externas como preparação do terreno interior, que é o coração de cada homem. 

É interessante como a orientação dada por São Bento aos seus monges sirva ainda hoje como um norte a todo aquele que se sente chamado a viver de forma mais concreta sua vocação de batizado, mesmo que para uma realidade fora dos claustros, mas por meio de uma adesão plena à espiritualidade que se funda na Escuta da Palavra de Deus, contextualizada no tempo presente, a qual exige de nossa parte o firme propósito em executá-La, em outras palavras, o inclinar do coração. Estas instruções não são senão a linguagem mais accessível, trocada em miúdos, e que nos fazem entender melhor a Sagradas Escrituras na qual também, como cume de toda a revelação, se encontram os evangelhos, e por eles chegar à compreensão da Palavra que se dá por meio da leitura, quer externa ou interna, ao ter em vista a tradição e o contexto em que nos encontramos, pondo-A em prática. 
 
Esta instrução, deixada por São Bento como herança aos seus filhos espirituais, encontra o seu cerne na revelação de Deus e do mistério de Si mesmo e de Sua vontade  revelados por meio de Cristo, o Verbo encarnado, segundo o qual é garantido a todos os homens o acesso ao Pai.  

Num mundo assinalado pelas desordens de todos os tipos, nos damos conta de que algo não vai bem com os princípios e valores impetrados no coração do homem de hoje ao compararmos com o homem de ontem, em se tratando da sua origem como elemento exclusivo de pertença, que se dá pela comunhão com Deus, autor e princípio de todo o bem. Identificamos, portanto, ao nos depararmos com essa realidade vigente, a ruptura que se deu com a separação do homem, por vontade inconsciente ou não, em relação a Deus, que jamais deixou de lhe falar com o passar dos séculos, apesar do insubordinado fechamento à Sua Voz no interior de cada pessoa.  O homem fechou-se em si mesmo; diferente daquele movimento que fez os padres do deserto ao se isolarem, e estarem ao mesmo tempo abertos para o mundo, ao se compreenderem em Deus por meio do silêncio. 

Diante de uma realidade como a nossa, afetada pelo mal que nos advém de todos os lados e de tantas formas, sob o signo de uma sociedade balizada, cada vez mais indiferente aos apelos do Espírito, a esperança se renova no coração daqueles que se abrem à Sua Voz no mais profundo de si, reconhecendo aí o lugar por excelência onde Deus quer nos falar. É preciso ter noção do homem todo, e isso os padres do deserto compreenderam bem – ao se confrontarem consigo mesmos na solidão dos desertos do Egito – ao perceberem com que particularidade O mesmo, ao longo do tempo ia se revelando neles o homem, como de fato ‘É’, ao se manifestar em cada pessoa, em suas ações livres e não forçadas pelo medo que desfigura e escraviza. 

Mas do que nunca, se torna urgente o surgimento em nosso meio de homens e mulheres, capazes de nos mostrar o caminho de volta à Escuta e compreensão da Palavra que se dá no recôndito de nosso ‘eu’ esquecido, ou de certa forma, ainda que inconsciente, deixado de lado, adormecido, e que precisa ser despertado, trazido à consciência pela sabedoria intuitiva e perspicaz de homens (anciãos) e mulheres (anciãs) experientes. 

É impossível passar por essa realidade atual, assolada pela indiferença, sem se deixar ser tocado de alguma forma. Desta mesma realidade extraímos e absorvemos com muita facilidade, ao nos darmos conta de nossas tendências, dos enganos, das máscaras que criamos, da falsidade de caráter que dissimula nossas ações e que nos impedem de sermos o que de fato somos, como empecilho ao que Deus mesmo espera de nós. Torna-se urgente o desarmar de nosso espírito tocado de certa forma pela animosidade em relação ao outro, pela vingança, pela competição sem se importar com o fracasso do próximo, pela ambição e tantos outros males, que passam indiferentemente sobre o clamor necessário e evidente dos que padecem, dando lugar à compaixão e o inclinar do coração para com as situações que nos alertam a cada instante. Nesse teor, deve-se sempre levar em consideração que, toda e qualquer indiferença à Voz divina, que passa também na compreensão do mundo externo, nos traz consequências sérias.

É preciso que, com a ajuda e exemplo de guias experimentados, como recebeu São Bento ainda em Subiaco, dilatemos nosso coração, deliberando o caminho pela abertura sincera de nossa vontade e, consequentemente, de nosso interior – para que a graça vinda do alto possa aí operar – como espaço no qual Deus quer se fazer Um conosco pela comunhão dos bens espirituais; tal acontecimento, não se concretizará senão pela disposição livre e deliberada de nossa vontade e desejo, o mais profundo, em querer e saber escutar, ao identificar o propósito divino para o qual somos inseridos e chamados. 

Ao se tratar da escuta, ou se preferir numa linguagem beneditina mais apurada, do ‘dilatar do coração’  que com o tempo se alcança pela perseverança – como podemos encontrar no prólogo da Regra de São Bento – constatamos pela experiência que é a partir dessa percepção, do que existe de essencial e revelador para uma pessoa, em sua particularidade, que dependerá a sua verdadeira realização e abertura ainda maior. É, portanto ainda, por meio desta via de percepção, que dependerá sua verdadeira realização e felicidade, ao se deixar guiar exclusivamente pelos passos e exemplos de Cristo que se concretizará por meio de uma adesão e escolha acertadas. 

A chave de leitura desta composição tem como base o vasto patrimônio de valores espirituais deixados pelos nossos antigos pais na fé, e se compreendem sob o galgar de uma verdadeira maturidade de caráter espiritual que se dá de fora para dentro e vice-versa; deste mesmo patrimônio tende a nada excluir do que aos nossos olhos, humanamente falando, possa ser considerado insignificante, mas que por certo também nos aponta a direção e nos fala diretamente ao coração.  

Visto ser o caminho espiritual todo pautado na compreensão da vontade divina sobre cada pessoa, em sua particularidade, possa esta leitura nos ajudar a compreender melhor as peculiaridades que a vida monástica nos proporciona, levando em consideração os exercícios que se nos apresentam à cada instante, ou se quiser, os apelos de cada dia que vão nos introduzindo pouco à pouco no mistério que no decorrer do percurso vai se tornando evidente – sobre nossa vocação no mundo – por meio de uma abertura interior vivida em sua plena liberdade, condizente a um(a) verdadeiro(a) e autêntico(a) filho(a) de Deus.  

O autor.  

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 Contra Capa

A nossa realidade existencial é toda ela sensitiva. Passamos por este mundo pela apreensão de tudo que nos rodeia, e, que por certo, vai nos moldando segundo o verdadeiro anseio de nossa alma, ao denotar o nosso real caminho e missão. 

Na vida espiritual, o trajeto é feito pelo galgar nos acontecimentos diários, quer particular ou comunitário, e, que, seguramente, vamos redescobrindo pela atenção devida a tudo o que a voz de Deus aí quer nos comunicar pela comunhão dos bens materiais e espirituais.

 Abre-se, portanto, uma nova perspectiva de vigilância, já ensinada por São Bento em sua regra ao exortar os seus monges à paciência e à perseverança quando escreveu: 

“Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, 'dilata-se o coração', e, com inenarrável doçura de amor é percorrido o caminho dos mandamentos de Deus” (RB Prólogo, 49).

Esta mesma é um convite que se dirige a todos para a constância nos exercícios do dia-a-dia, que gradativamente vão se tornando leves pelo expandir do coração em sua livre disponibilidade.

Oxalá os leitores encontrem aqui pistas para isso; e que essa mesma leitura seja acompanhada pela abertura de espírito.



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# Para obtê-lo acesse o link:  Inclina o ouvido - Clube de Autores.



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