terça-feira, 25 de março de 2014

A voz através dos signos (sinais) – o Oraculum





Toda religião traz em si, em seus fundamentos, algo que exterioriza o eterno... sinais visíveis, palpáveis, e que de alguma maneira possam expressar o ‘Inacessível’, ‘aquele’ ou ‘aquilo’ que existe para além de nossa razão humana e que está contido no seio do criador de todas as coisas. Por esse motivo, todas as experiências religiosas se encarregaram de criar mecanismos exteriores que pudessem de certa forma representar o sagrado, quase que como uma confirmação divina ao trazerem em si a marca do desejo de infinito gritante no mais profundo de cada ser. É o mistério perenizado, e por vezes incompreensível, que se expande através dos séculos e das gerações, cada uma segundo sua experiência característica, configurado por meio de uma certeza quase que metafísica encontrada em tudo o que existe no universo. 

Os mitos, as histórias, bem como os acontecimentos de ordem marcante na memória do povo, contadas e celebradas de geração em geração, é a forma pela qual se estende o modelo particular de crença de cada tribo ou comunidade, de cada cultura, e, repassada por sua prole tentam assim eternizar nos ritos como forma segura de exaltar o sagrado ao passo que moldam suas vidas com a necessidade do alto. 

Podemos dizer que para cada experiência religiosa Deus quisesse se apresentar com um nome próprio, revelador de sua essência, característico ao modo de viver de cada ser vivente sobre o orbe e que de forma universal o pudéssemos reconhecê-lO como o Deus de vários nomes.

A questão das coisas que hão de acontecer é também algo assinalado nas grandes religiões, cada uma com o seu modo particular de nomear quanto à previsão do futuro em relação às inquietações existentes no âmago de cada um. Se para alguns o termo ‘adivinhação’ acarreta uma compreensão negativa, para outros é sempre o mesmo desejo profundo existente no coração de todo o ser em relação à vontade do alto em vista do presente, bem como do futuro. 

O que para alguns não passa de uma grande intuição, para outros é chamado de mediunidade – ou o dom de prevê o que está por acontecer – assim como para alguns ainda seja simplesmente conhecido e aceito como o dom de profecias; a este, se refere uma mesma realidade que ultrapassa todo entendimento, posto por Deus no interior de algumas poucas pessoas com o intuito de ajudar os seus irmãos no caminho da verdade para que se evitem os danos, assim como todo e qualquer mal, nocivos ao físico, à alma e ao espírito.

Fato especial e notável se faz comum em todas as grandes e reconhecidas religiões – quer do ocidente como do oriente – o que concretiza a certeza dessa mesma realidade denominada a partir de suas divindades, bem como de seus nomes próprios.  

O homem é por si mesmo espiritual e dessa forma transcende em seu limite no espaço onde se encontra. Há ainda no mesmo homem um desejo de Deus intrínseco que se mistura às suas angustias; o mesmo, por si só já é um sinal evidente de algo que lhe supera, que está para além de seu entendimento em relação a Deus, da forma como o entendemos, que ultrapassa todo e qualquer conhecimento. 

Nossas experiências espirituais tendem nomeá-lO (Deus) como algo concreto, ainda que jamais o tenhamos visto, mas sob uma possibilidade não tão frequente daquela experiência particular e profunda com O mesmo que se esconde no interior de todo aquele que O busca de verdade.   

Abaixo, damos a conhecer a lista de alguns nomes de deuses bem como de seus respectivos povos ou religião :

#Deus dos Gregos (antigos): Zeus
#Deus dos Indígenas: Guaraci
#Deus no Camdonblé: Olorum
#Deus do Egito (antigo):
#Deus dos Mulçumanos: Alah
#Deus dos Incas: Inti
#Deus dos Astecas: Huitzilopochtli
#Deus Indu: Shiva
#Deus dos Judeus e Cristãos: Ihaveh

O Oraculum

O oraculum é um instrumento utilizado como meio pelo qual se revelam o saber e os desígnios divinos, onde se direcionam a reta vontade e o desejo profundo de conhecê-los. É composto por seis peças elementares: quatro moedas e dois dados numéricos. Sua razão de ser e de interpretar se compreende na kabala, ciência secreta dos antigos judeus – acrescido por meio de uma adaptação – como forma de desvendar o significado dos números em relação à pessoa contidos na Sagrada Escritura.

Além das seis peças elementares observamos em sua constituição mais três peças complementares, a saber: um corporal, um copo com água e a vela. O corporal é a representação de Cristo, grande mensageiro do seio da trindade no meio dos homens; a água representa o caos: ‘No princípio... o Espírito pairava sobre as águas’ (Gn 1. 1-2). A vela é representada pela luz que ilumina o caos na criação do universo como primeira a ser criada: ‘...Faça-se a Luz...’ (Gn 1. 3). 

Apresentados estes símbolos, o mesmo é também composto por mais dois elementos considerados essenciais: o dom e a invocação. 

Estes dois últimos são tidos como essenciais pelo fato de haver aí a verdadeira consciência do chamado e a reta intenção que se confunde com a do próprio Deus, uma vez que é Ele mesmo quem revela os seus desígnios a quem O busca de coração sincero e puro.  

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Note-se, portanto, em tudo ser glorificado e exaltado o mesmo Nome de Deus, onde quer que seja o lugar e a experiência daqueles que O almejam de verdade, e, assim, a sua majestade seja difundida em todos os confins da terra, pelos séculos infinitos.  Assim seja!


domingo, 23 de março de 2014

Uma crítica sobre a Razão Tupiniquim



(Crítica sobre a Crítica da Razão Tupiniquim de Roberto Gomes*)




Ao longo da leitura percebemos como o autor insiste em mencionar o fato de que o Brasil não é detentor de uma Filosofia original. Do inicio ao fim vê-se nomeando, de diversas formas, o atraso de uma filosofia concreta, realista – que pudesse se dizer de casa – e, que se esconde sob os vieses de um pensamento alheio. 

Ao mencionar as origens do povo brasileiro, o mesmo sublinha o fato de sua exploração, desde sua descoberta, como um dos fatores de seu retrógrado desenvolvimento na área filosófica, ao constatar não ter uma autonomia própria na área do pensar que o desvinculasse do pensamento estrangeiro, nesse caso dos pensadores europeus. 

A minha crítica repousa sobre a crítica do autor deveras mencionada em seu texto e surge a partir do olhar extremamente pessimista em relação a superação de nossa gente, e, que embora seja uma pátria jovem, – o que não podemos deixar de levar em consideração – não deixa de avançar no conhecimento de sua realidade, bem como de seus reais problemas. 

Um dado que também deve ser levado em conta é o fato do ‘surgimento’, propriamente dito, da filosofia em terras gregas, e aqui gostaria de fazer a relação com os tantos outros tipos e vias filosóficas como uma continuidade daquela já discutida e apresentada pelos filósofos antigos.

Partindo dessa breve observação histórica, surgem alguns outros questionamentos pessoais:

– As questões que hoje levantamos e que o mundo ocidental, sobretudo, nos apresenta em seus mais conceituados pensadores como Heigel, Kant, Descartes, Spinoza, etc., já não foram de alguma forma levantadas pelos grandes e memoráveis filósofos da antiguidade, tais como Aristóteles, Platão, Sócrates e tantos outros? 

– As reais necessidades do homem, as materiais, bem como as que o transcendem não foram já de alguma forma mencionadas pelos notáveis metafísicos do passado e que hoje, segundo sua realidade particular, servem como paradigma de reflexão no intuito de encontrar uma resposta favorável à nossa realidade atual?

– O lugar do homem no mundo bem como o seu papel transformador na pólis (πολις) como membro efetivo e afetivo de mudanças coerentes segundo a razão natural inerente a todo ser, como também o respeito, a questão da liberdade, das virtudes e dos vícios não foram de alguma forma também já mencionados num passado remoto e vemos ainda hoje tão atuais em nossos dias?

A pergunta que não pode deixar de escapar diante dessa visão acentuada e tão pessimista é:

– Onde há de fato, em relação aos pensadores europeus, a verdadeira originalidade – da forma como nós entendemos – de seus trabalhos e pesquisas filosóficas?

Um dado importante, e que vale a pena repetir, é que o Brasil em relação a outras civilizações como a Europa já deu os seus primeiros passos e continua a dar passos significativos no âmbito filosófico. Há de fato em nossos dias, em nosso meio, uma presença da filosofia que nos esquadrinha, nos atrai, bem como a toda uma geração de homens e mulheres que estão por vir...   

Um exemplo característico dessa presença, e esta deve soar para nós como um sinal evidente de eficácia do pensamento, se encontra estampada no grito dos marginalizados de nosso tempo a favor do direito e do valor resgatado de cada pessoa na sociedade; se encontra ainda na organização das classes e tantos outros movimentos que se encontram nas cidades de nosso imenso país.  

Todo e qualquer pensamento racional, seja antigo ou novo, encontrará por certo sua razão de ser, de subsistir, confrontado com a realidade particular de cada gente, e, este mesmo servirá de modelo para tantas outras civilizações – o que denota numa certa igualdade de questões – ao se tratar do mesmo homem e seus aspectos em qualquer lugar que se encontre, ainda que sob influências culturais diversas e existentes no orbe.

As mesmas questões de ontem, sobretudo no que existe de mais essencial, seguramente são as de hoje e serão as do futuro por se tratar do mesmo homem, ainda que sob contexto diverso. Tão grande é a certeza desse enunciado que são mencionados ainda hoje os grandes nomes do passado como referência experimental e histórica e que por certo são devotados como luzes nas trevas de nosso quotidiano. 

Nunca houve em toda história da humanidade alguém que aceitasse a vergonha, a escravidão bem como todo e qualquer tipo de julgo, ainda que parecesse o contrário, até que surgisse dentre eles um apenas e despertasse a consciência da importância que cada um tem diante da comunidade ou do meio em que viviam. O homem já trás em si esta consciência, embora em alguns ainda adormecida mas ela está aí; é necessário que se levante um apenas para espantar o torpor da ignorância que impede de seguir adiante... 

Não seria isso também uma das funções da filosofia?

O movimento estudantil, a luta dos trabalhadores, as reivindicações do povo frente ao governo por saúde, moradia, educação e tantas outras questões de nosso tempo não são significantes no tocante a arte de filosofar? De onde vem surgindo essa consciência do povo em relação aos seus reais direitos e deveres?

Assim sendo, é um sinal suficientemente aceitável de que as academias de filosofia, por conseguinte, seus filósofos, estão cumprindo o seu papel no que concerne a conscientização e felicidade de sua gente. 

A civilização europeia, levando em conta toda a sua trajetória ao longo da história, para estar no patamar na qual se encontra hoje, ao ser considerada como ‘continente de primeiro mundo’, seguramente teve que passar pelo processo da aprendizagem comparado as mazelas dos países subdesenvolvidos, assim como em outros momentos de sua história teve que lidar com a barbárie, a guerra, a intolerância e tantos outros problemas que de alguma forma ainda não ascendemos tudo para de fato ser o que ela é hoje.  

Portanto, nada há de novo em nosso mundo, nem mesmo o torpor que nos abarca frente a crise de cada época específica, mas sem sombra de dúvidas é através de referências seguras do passado que vamos confrontando os mesmos embates do presente e dessa forma reconstruindo o nosso mundo na certeza de um lugar melhor e mais aprazível.   

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* Análise crítica realizada por Mauro de Almeida do livro de Roberto Gomes sobre a Crítica da razão Tupiniquim.
Mauro de Almeida é escritor na área da espiritualidade e estudante de Filosofia na Faculdade de São Bento da Bahia.