domingo, 23 de março de 2014

Uma crítica sobre a Razão Tupiniquim



(Crítica sobre a Crítica da Razão Tupiniquim de Roberto Gomes*)




Ao longo da leitura percebemos como o autor insiste em mencionar o fato de que o Brasil não é detentor de uma Filosofia original. Do inicio ao fim vê-se nomeando, de diversas formas, o atraso de uma filosofia concreta, realista – que pudesse se dizer de casa – e, que se esconde sob os vieses de um pensamento alheio. 

Ao mencionar as origens do povo brasileiro, o mesmo sublinha o fato de sua exploração, desde sua descoberta, como um dos fatores de seu retrógrado desenvolvimento na área filosófica, ao constatar não ter uma autonomia própria na área do pensar que o desvinculasse do pensamento estrangeiro, nesse caso dos pensadores europeus. 

A minha crítica repousa sobre a crítica do autor deveras mencionada em seu texto e surge a partir do olhar extremamente pessimista em relação a superação de nossa gente, e, que embora seja uma pátria jovem, – o que não podemos deixar de levar em consideração – não deixa de avançar no conhecimento de sua realidade, bem como de seus reais problemas. 

Um dado que também deve ser levado em conta é o fato do ‘surgimento’, propriamente dito, da filosofia em terras gregas, e aqui gostaria de fazer a relação com os tantos outros tipos e vias filosóficas como uma continuidade daquela já discutida e apresentada pelos filósofos antigos.

Partindo dessa breve observação histórica, surgem alguns outros questionamentos pessoais:

– As questões que hoje levantamos e que o mundo ocidental, sobretudo, nos apresenta em seus mais conceituados pensadores como Heigel, Kant, Descartes, Spinoza, etc., já não foram de alguma forma levantadas pelos grandes e memoráveis filósofos da antiguidade, tais como Aristóteles, Platão, Sócrates e tantos outros? 

– As reais necessidades do homem, as materiais, bem como as que o transcendem não foram já de alguma forma mencionadas pelos notáveis metafísicos do passado e que hoje, segundo sua realidade particular, servem como paradigma de reflexão no intuito de encontrar uma resposta favorável à nossa realidade atual?

– O lugar do homem no mundo bem como o seu papel transformador na pólis (πολις) como membro efetivo e afetivo de mudanças coerentes segundo a razão natural inerente a todo ser, como também o respeito, a questão da liberdade, das virtudes e dos vícios não foram de alguma forma também já mencionados num passado remoto e vemos ainda hoje tão atuais em nossos dias?

A pergunta que não pode deixar de escapar diante dessa visão acentuada e tão pessimista é:

– Onde há de fato, em relação aos pensadores europeus, a verdadeira originalidade – da forma como nós entendemos – de seus trabalhos e pesquisas filosóficas?

Um dado importante, e que vale a pena repetir, é que o Brasil em relação a outras civilizações como a Europa já deu os seus primeiros passos e continua a dar passos significativos no âmbito filosófico. Há de fato em nossos dias, em nosso meio, uma presença da filosofia que nos esquadrinha, nos atrai, bem como a toda uma geração de homens e mulheres que estão por vir...   

Um exemplo característico dessa presença, e esta deve soar para nós como um sinal evidente de eficácia do pensamento, se encontra estampada no grito dos marginalizados de nosso tempo a favor do direito e do valor resgatado de cada pessoa na sociedade; se encontra ainda na organização das classes e tantos outros movimentos que se encontram nas cidades de nosso imenso país.  

Todo e qualquer pensamento racional, seja antigo ou novo, encontrará por certo sua razão de ser, de subsistir, confrontado com a realidade particular de cada gente, e, este mesmo servirá de modelo para tantas outras civilizações – o que denota numa certa igualdade de questões – ao se tratar do mesmo homem e seus aspectos em qualquer lugar que se encontre, ainda que sob influências culturais diversas e existentes no orbe.

As mesmas questões de ontem, sobretudo no que existe de mais essencial, seguramente são as de hoje e serão as do futuro por se tratar do mesmo homem, ainda que sob contexto diverso. Tão grande é a certeza desse enunciado que são mencionados ainda hoje os grandes nomes do passado como referência experimental e histórica e que por certo são devotados como luzes nas trevas de nosso quotidiano. 

Nunca houve em toda história da humanidade alguém que aceitasse a vergonha, a escravidão bem como todo e qualquer tipo de julgo, ainda que parecesse o contrário, até que surgisse dentre eles um apenas e despertasse a consciência da importância que cada um tem diante da comunidade ou do meio em que viviam. O homem já trás em si esta consciência, embora em alguns ainda adormecida mas ela está aí; é necessário que se levante um apenas para espantar o torpor da ignorância que impede de seguir adiante... 

Não seria isso também uma das funções da filosofia?

O movimento estudantil, a luta dos trabalhadores, as reivindicações do povo frente ao governo por saúde, moradia, educação e tantas outras questões de nosso tempo não são significantes no tocante a arte de filosofar? De onde vem surgindo essa consciência do povo em relação aos seus reais direitos e deveres?

Assim sendo, é um sinal suficientemente aceitável de que as academias de filosofia, por conseguinte, seus filósofos, estão cumprindo o seu papel no que concerne a conscientização e felicidade de sua gente. 

A civilização europeia, levando em conta toda a sua trajetória ao longo da história, para estar no patamar na qual se encontra hoje, ao ser considerada como ‘continente de primeiro mundo’, seguramente teve que passar pelo processo da aprendizagem comparado as mazelas dos países subdesenvolvidos, assim como em outros momentos de sua história teve que lidar com a barbárie, a guerra, a intolerância e tantos outros problemas que de alguma forma ainda não ascendemos tudo para de fato ser o que ela é hoje.  

Portanto, nada há de novo em nosso mundo, nem mesmo o torpor que nos abarca frente a crise de cada época específica, mas sem sombra de dúvidas é através de referências seguras do passado que vamos confrontando os mesmos embates do presente e dessa forma reconstruindo o nosso mundo na certeza de um lugar melhor e mais aprazível.   

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* Análise crítica realizada por Mauro de Almeida do livro de Roberto Gomes sobre a Crítica da razão Tupiniquim.
Mauro de Almeida é escritor na área da espiritualidade e estudante de Filosofia na Faculdade de São Bento da Bahia.



 

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