(Crítica sobre a Crítica da Razão Tupiniquim de Roberto Gomes*)
Ao longo da leitura
percebemos como o autor insiste em mencionar o fato de que o Brasil não é
detentor de uma Filosofia original. Do inicio ao fim vê-se nomeando, de
diversas formas, o atraso de uma filosofia concreta, realista – que pudesse se dizer
de casa – e, que se esconde sob os vieses de um pensamento alheio.
Ao mencionar as origens do
povo brasileiro, o mesmo sublinha o fato de sua exploração, desde sua
descoberta, como um dos fatores de seu retrógrado desenvolvimento na área
filosófica, ao constatar não ter uma autonomia própria na área do pensar que o
desvinculasse do pensamento estrangeiro, nesse caso dos pensadores europeus.
A minha crítica repousa
sobre a crítica do autor deveras mencionada em seu texto e surge a partir do
olhar extremamente pessimista em relação a superação de nossa gente, e, que
embora seja uma pátria jovem, – o que não podemos deixar de levar em
consideração – não deixa de avançar no conhecimento de sua realidade, bem como
de seus reais problemas.
Um dado que também deve ser
levado em conta é o fato do ‘surgimento’, propriamente dito, da filosofia em
terras gregas, e aqui gostaria de fazer a relação com os tantos outros tipos e
vias filosóficas como uma continuidade daquela já discutida e apresentada pelos
filósofos antigos.
Partindo dessa breve
observação histórica, surgem alguns outros questionamentos pessoais:
– As questões que hoje
levantamos e que o mundo ocidental, sobretudo, nos apresenta em seus mais
conceituados pensadores como Heigel, Kant, Descartes, Spinoza, etc., já não
foram de alguma forma levantadas pelos grandes e memoráveis filósofos da
antiguidade, tais como Aristóteles, Platão, Sócrates e tantos outros?
– As reais necessidades do
homem, as materiais, bem como as que o transcendem não foram já de alguma forma
mencionadas pelos notáveis metafísicos do passado e que hoje, segundo sua
realidade particular, servem como paradigma de reflexão no intuito de encontrar
uma resposta favorável à nossa realidade atual?
– O lugar do homem no mundo
bem como o seu papel transformador na pólis (πολις) como membro efetivo e
afetivo de mudanças coerentes segundo a razão natural inerente a todo ser, como
também o respeito, a questão da liberdade, das virtudes e dos vícios não foram
de alguma forma também já mencionados num passado remoto e vemos ainda hoje tão
atuais em nossos dias?
A pergunta que não pode deixar
de escapar diante dessa visão acentuada e tão pessimista é:
– Onde há de fato, em
relação aos pensadores europeus, a verdadeira originalidade – da forma como nós
entendemos – de seus trabalhos e pesquisas filosóficas?
Um dado importante, e que vale
a pena repetir, é que o Brasil em relação a outras civilizações como a Europa
já deu os seus primeiros passos e continua a dar passos significativos no
âmbito filosófico. Há de fato em nossos dias, em nosso meio, uma presença da
filosofia que nos esquadrinha, nos atrai, bem como a toda uma geração de homens
e mulheres que estão por vir...
Um exemplo característico
dessa presença, e esta deve soar para nós como um sinal evidente de eficácia do
pensamento, se encontra estampada no grito dos marginalizados de nosso tempo a
favor do direito e do valor resgatado de cada pessoa na sociedade; se encontra
ainda na organização das classes e tantos outros movimentos que se encontram
nas cidades de nosso imenso país.
Todo e qualquer pensamento
racional, seja antigo ou novo, encontrará por certo sua razão de ser, de
subsistir, confrontado com a realidade particular de cada gente, e, este mesmo
servirá de modelo para tantas outras civilizações – o que denota numa certa igualdade
de questões – ao se tratar do mesmo homem e seus aspectos em qualquer lugar que
se encontre, ainda que sob influências culturais diversas e existentes no orbe.
As mesmas questões de ontem,
sobretudo no que existe de mais essencial, seguramente são as de hoje e serão
as do futuro por se tratar do mesmo homem, ainda que sob contexto diverso. Tão
grande é a certeza desse enunciado que são mencionados ainda hoje os grandes
nomes do passado como referência experimental e histórica e que por certo são devotados
como luzes nas trevas de nosso quotidiano.
Nunca houve em toda história
da humanidade alguém que aceitasse a vergonha, a escravidão bem como todo e
qualquer tipo de julgo, ainda que parecesse o contrário, até que surgisse
dentre eles um apenas e despertasse a consciência da importância que cada um tem
diante da comunidade ou do meio em que viviam. O homem já trás em si esta
consciência, embora em alguns ainda adormecida mas ela está aí; é necessário
que se levante um apenas para espantar o torpor da ignorância que impede de
seguir adiante...
Não seria isso também uma
das funções da filosofia?
O movimento estudantil, a
luta dos trabalhadores, as reivindicações do povo frente ao governo por saúde,
moradia, educação e tantas outras questões de nosso tempo não são significantes
no tocante a arte de filosofar? De onde vem surgindo essa consciência do povo
em relação aos seus reais direitos e deveres?
Assim sendo, é um sinal
suficientemente aceitável de que as academias de filosofia, por conseguinte,
seus filósofos, estão cumprindo o seu papel no que concerne a conscientização e
felicidade de sua gente.
A civilização europeia, levando
em conta toda a sua trajetória ao longo da história, para estar no patamar na
qual se encontra hoje, ao ser considerada como ‘continente de primeiro mundo’,
seguramente teve que passar pelo processo da aprendizagem comparado as mazelas
dos países subdesenvolvidos, assim como em outros momentos de sua história teve
que lidar com a barbárie, a guerra, a intolerância e tantos outros problemas que
de alguma forma ainda não ascendemos tudo para de fato ser o que ela é hoje.
Portanto, nada há de novo em
nosso mundo, nem mesmo o torpor que nos abarca frente a crise de cada época
específica, mas sem sombra de dúvidas é através de referências seguras do
passado que vamos confrontando os mesmos embates do presente e dessa forma
reconstruindo o nosso mundo na certeza de um lugar melhor e mais
aprazível.
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* Análise crítica
realizada por Mauro de Almeida do livro de Roberto Gomes sobre a Crítica da
razão Tupiniquim.
Mauro de Almeida é escritor
na área da espiritualidade e estudante de Filosofia na Faculdade de São Bento da
Bahia.
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